Cannabis & Música Popular Brasileira
Como vimos no último texto que escrevi aqui no blog da SDF, já é secular a relação entre música e Cannabis, tanto como tema das letras quanto como combustível de músicos e poetas que usam a erva para ampliar sua percepção e sensibilidade (não à toa, o baseado é conhecido também como “cigarrinho de artista”). É hoje público que gênios do quilate de João Gilberto, Tim Maia e Cazuza foram adeptos da maconha durante diversos períodos de suas vidas, potencializando ainda mais a criatividade de cada um deles. Na música brasileira as menções à erva são inúmeras e se entranham por muitos gêneros musicais. Já no início dos anos 1970, Erasmo Carlos e o jovem guarda Roberto Carlos compuseram a psicodélica Maria Joana.
Veja abaixo:
Lançada por Erasmo em disco de 1971, uma das primeiras citações diretas à marijuana na música brasileira. A MPB está repleta de referências à cannabis, como o faz Chico Buarque em Hino de Duran.
Veja abaixo:
Música em que, com classe e postura crítica à criminalização da vida, alerta: “Se trazes no bolso a contravenção, /Muambas, baganas e nem um tostão/ A lei te vigia, bandido infeliz/ Com seus olhos de raios X”. Na música “O mal é o que sai da boca do Homem”.
Veja abaixo:
Pepeu Gomes (com Baby e Galvão), que gerou muita polêmica ao ser lançada no final dos anos 1970, há uma clara defesa da erva: “Você pode fumar baseado”, diz ele: o mal não está no que entra pela boca do homem, mas sim no que dela sai. Gilberto Gil nunca escondeu seu apreço pela ganja, que, segundo ele, proporciona “passeios mais tranquilos pelo campo da música, da melodia, do ritmo”, tendo afirmado em 2019 que “a bossa nova não existiria sem a maconha”. Seu parceiro Caetano Veloso, embora afirme não fumar a erva, a aborda em inúmeras canções como “A Tua Presença Morena”, “Odara”, “Meu bem, meu mal”, “Chuva, Suor e Cerveja”, “Eu sou neguinha” e “Fora da ordem”. O nada careta Paulo Diniz aconselha: “Ponha Um Arco-Íris na Sua Moringa”.
Veja abaixo:
Em canção de mesmo nome, também clara referência à cannabis. E a presença cannábica não se limita à MPB, havendo inúmeras menções também no reggae e no samba, de onde destaco o imortal Bezerra da Silva e suas clássicas interpretações para “Malandragem Dá Um Tempo”, “Erva Proibida”, “A Fumaça Já Subiu Pra Cuca” e “Semente”. Nas últimas décadas as referências à ganja tem se disseminado ainda mais por aqui, como no “Veneno da Lata” de Fernanda Abreu ou na “Tora tora” dos Raimundos. Ainda que todos esses esforços sejam louváveis, nenhum desses artistas fez pela erva o que fez o coletivo conhecido como Hemp Family: Planet Hemp, Funk Fuckers, Black Alien, O Rappa!, além de outros agregados como o saudoso Speed, uma galera do RJ liderada por Marcelo D2 que a partir dos anos 90 colocou as cartas na mesa e pautou as reivindicações pela legalização da maconha no país. Muitas de suas músicas contaram com a pesquisa fina de samples, a produção e/ou os scratches do DJ de SP Rodrigo Teixeira, musicalmente conhecido como DJ Nuts, um expert em música brasileira, exímio pesquisador e colecionador de vinis que já rodou o mundo deixando plateias de queixo caído com suas seletas e discotecagens finíssimas capazes de revigorar músicas e artistas clássicos da música brasileira além de nos brindar com faixas incríveis de artistas que foram tristemente apagados da história da nossa música. Já há mais de uma década ele toca seu projeto Disco é Cultura
Duas de suas mixtapes:
Embalo Jovem:
Cultura Cópia:
Essa Mixtapes apresentam sets em vinil repletos de música brasileira da melhor qualidade. Atualmente ele tem apresentado esse projeto ao vivo aos domingos com divulgação em todas as redes sociais da Squadafum.
Fonte: https://www.hypeness.com.br/2019/08/nao-existiria-bossa-nova-sem-a-maconha-afirma-gilberto-gil/