Squadafum apresenta: “Mutirão de Graffiti das Minas”, no Famintas Lab
Em homenagem ao Dia Internacional do Graffiti, a Squadafum conversa com mulheres grafiteiras em evento no novo centro cultural de São Paulo, Famintas Lab.
Ser mulher é, muitas das vezes, resistir para ocupar lugares que foram historicamente definidos como masculinos. A socialização feminina, segundo a lógica patriarcal, enquadra as mulheres em cubículos para seguirem trabalhos, esportes, atividades de lazer e outras formas de expressão específicas.
Felizmente, este cenário está cada vez mais distante da realidade dos grandes centros urbanos, onde cada vez mais mulheres desafiam as normas e ambientes machistas para ocuparem o lugar que é seu por direito — lugar de mulher é onde ela quiser!
Em homenagem ao Dia Internacional do Graffiti, comemorado no mês da mulher, a Squadafum esteve presente no evento “Mutirão de Graffiti das Minas”, no novo centro cultural Famintas Lab, na capital paulista, e conversou com mulheres cheias de força e coragem, que quebram estereótipos diariamente ocupando as ruas com seus corpos e suas artes.
Leticia Xavier, “Lelex”
Lelex (@lelex.arte) grafita há quatro anos. “Ainda sou um neném nessa caminhada”, brinca a artista. Para ela, foi um privilégio começar a grafitar já dentro de um grupo de mulheres:
“A potência que é ver tantas minas pintando atualmente inspira! Nós buscamos nossos direitos: sair na rua para pintar com a roupa que queremos, poder nos expressar sobre o que acreditamos, colocar na arte uma frase de impacto que gostamos…”
Ela explica que as mulheres sempre estiveram no cenário do graffiti, mas que antes não tinham tanto destaque. “Geralmente as minas começavam a pintar por causa do namorado, marido, e hoje a gente vê um movimento em que as minas querem pintar por elas mesmas, e tá sendo uma revolução”.
Lelex acredita que, com maior visibilidade e inclusão das mulheres na cena, é criado um novo pensamento comunitário dentro do movimento:
“Por exemplo, quando você pensa em fazer um evento de graffiti: se você chamar uma mulher que tem filho, você vai precisar pensar numa estrutura que acolha essas crianças. A partir daí, você já vai levando para outros caminhos, de cuidado e acolhimento para as mulheres e seus filhos e etc…”
Yasmin Andrade, “Yah Luz”
Assim como Lelex, Yah Luz (@yah.luz) também começou a grafitar dentro de um coletivo feminino, o Projeto Grafitar, o que foi essencial para o seu desenvolvimento como artista. Ela indica esse caminho para todas as minas que desejam começar a pintar. “As mulheres me ajudam muito, sempre dão dicas, apoio, é um mundo muito acolhedor”, conta.
A artista comentou que grafita há um ano e meio e, nesse meio tempo, sentiu diferença no olhar masculino para com as mulheres que estão nas ruas fazendo sua arte:
“Nunca é ‘nossa, que legal sua arte’, e sim ‘nossa, você é uma mulher de coragem!’. Homens e mulheres recebem elogios diferentes quando estão nas ruas pintando”.
Além disso, ela também compartilhou uma reflexão sobre as dificuldades e diferenças de oportunidades que as mulheres sofrem para serem incluídas na cena: “Estou participando de um edital e, quando comecei o corre, percebi como é difícil. São mais vagas para homens, homens convidam homens, mulheres são sempre o acréscimo”.
Mesmo assim, ela encoraja todas as mulheres que desejam começar no graffiti a se arriscar: “O primeiro passo é tentar, não tenha medo! Vá, rabisque a primeira parede que você encontrar e é assim que você vai se desenvolver e evoluir na arte”, explica Yah Luz.
Camila Oliveira, “Olitos”
O objetivo de “Olitos” (@olitos_arts) — também conhecida como Olhos Verdes — no graffiti é gerar uma reflexão sobre o sistema. A artista explica que a rua é um local de muita visibilidade, em que as pessoas podem facilmente observar sua arte e refletir.
“Meu persona é uma figura protestante, ele é contra o sistema, eu sou uma pessoa contra o sistema”, explica Olitos. O seu personagem é uma pessoa sentada na frente da televisão, representando essa estratégia de manipulação e alienação social.
“Hoje o mundo é assim, as pessoas saem acreditando em tudo o que elas veem e acham que está tudo certo. Minha arte transmite uma mensagem protestante, com o objetivo de abrir a mente das pessoas. Quero que elas olhem e reflitam: “Caramba, eu realmente sou uma pessoa alienada e preciso mudar”.
Carolina Folego, “AFolego”
AFolego (@afolego), que já está na cena há mais de dez anos, fala sobre sua caminhada no graffiti com a audácia e confiança de quem já tem experiência de sobra: “Acho que as mulheres têm a capacidade de ocupar qualquer espaço, em qualquer lugar, porque nós somos seres humanos capazes de fazer qualquer coisa”.
Ela conta que, na sua opinião, o maior desafio para as mulheres avançarem na cena é o próprio patriarcado. “Esse grande complô do sistema que tá todo montadinho para nos deixar sempre de lado”, explica a artista.
Independentemente das dificuldades, AFolego acredita que o caminho é a persistência e transmite uma visão de empoderamento e resistência para as mulheres na arte: “Nós temos que ter coragem, meter o pé na porta e arrombar as portas que estão trancadas. Quem quiser nos ajudar, a gente entra direitinho, de boa e agradece, (risos).”
Sobre Famintas Lab
O evento “Mutirão do Grafitti das Minas” foi uma parceria entre os coletivos Famintas Lab, Projeto Grafitar e Graffiti Queens para dar vida ao novo centro cultural Famintas Lab e transformá-lo em “um verdadeiro santuário da arte urbana”, no bairro Santa Cecília, no centro de São Paulo (SP).
Famintas Lab é um projeto de produção cultural e audiovisual pensado por mulheres para garantir que mulheres, pessoas negras e indígenas, artistas periféricos e independentes e pessoas LGTBQIAP+, entre outros grupos vulneráveis, tenham acesso à cultura, como explicam nas redes sociais:
“No centro da cidade de São Paulo, ao lado do Minhocão, onde dormem as pessoas mais pobres da cidade, e no final da avenida Angélica, onde vivem as pessoas mais ricas da cidade, encontramos o lugar perfeito pra gritar contra as desigualdades!”.
1 comentario
Parabéns pela linda Matéria !!!!!